Ser missionário/a significa decidir-se radicalmente pelo Reino de Deus em prol da promoção humana, na defesa inviolável da vida. A missionariedade não é privilégio de certas pessoas e constitui o cerne da vida cristã: “Anunciar o Evangelho é uma necessidade que se me impõe” (I Cor 9, 16). Pelo batismo, nos tornamos membros de Cristo e por isso participantes de sua missão sacerdotal, profética e régia(...)
Ser missionário/a não significa necessariamente percorrer grandes distâncias, ir a outros continentes, mas sim fazer a mais difícil de todas as viagens, àquela que nos leva ao encontro do outro, com suas limitações e fragilidades. É ter o dinamismo do Êxodo: sair do próprio mundo (cultura, religião comodidade, etc.) para ir ao encontro daqueles que nada possuem, que não podem, que não conhecem... Isso supõe uma mística especial que consiste em morrer um pouco para si mesmo para dar-se à causa do Reino. É um projeto de vida total.
Como consequência deste assumir o compromisso missionário, nasce novo estilo de missões: não levar, mas descobrir. Não só dar, mas receber. Não conquistar, mas partilhar e buscar juntos. Não ser mestre, mas aprendiz da verdade. A missão nos permite criar novos laços, novas relações, um novo jeito de olhar a vida, um novo jeito de ser Igreja.
Um dos principais aspectos do ser missionário é o testemunho de vida. O Papa João Paulo II, de saudosa memória, disse com muita propriedade: “É preciso gritar Cristo com a vida”. De fato, nossa maneira de pensar e agir devem irradiar a presença do ressuscitado ao nosso redor. Diz uma história antiga:
Um dia, Francisco de Assis convidou o irmão Leão para pregar. Saíram do convento, percorreram a praça pública e regressaram. Então, o Frade perguntou:- A que horas vamos pregar?- Já o fizemos, disse Francisco.- Como se não falamos?- Se nos assemelhamos a Cristo, aqueles que nos viram ficaram pensando nele. Já pregamos com o nosso exemplo, pois um homem que está pleno de Deus o comunica a todos…
Evangelizemos com a nossa vida e se for necessário usemos as palavras. É assim que mostraremos ao mundo a essência do ser cristão. O desafio que nos é proposto é: de que maneira podemos ser missionários em casa, no trabalho, na política (já que se aproximam as eleições), nos ambientes de lazer e em todas as outras realidades temporais? Estamos assumindo esse mandato de Jesus sendo portadores da boa-nova da justiça, da paz, da fraternidade e da acolhida?
Se olharmos para o grande modelo de vivência missionária, Jesus Cristo, perceberemos que o motivo central de sua missão é realizar a vontade d’Aquele que o enviou: “seja feita a tua vontade e não a minha” e que o seu processo pedagógico, abrange, pelo menos, quatro âmbitos de ação, intimamente ligados:
1- A missão de Jesus consigo mesmo: predominância da oração: sozinho, com os discípulos, em lugares desertos, em meio à multidão;
2- A missão de Jesus com os discípulos: Jesus tem a intenção explícita de formar os seus discípulos, através da escuta, do convite, da explicação, da interpretação, da oração, da celebração, da prática. (convite-escolha-envio-formação)
3- A missão de Jesus com o povo: a pessoa, a comunidade e a multidão.
- Com a pessoa, Jesus dialoga, compreende, deixa-se tocar pelas necessidades e liberta. (Mc 7, 24-30)
- Com a comunidade, Jesus confronta as vontades e tendências com os critérios da missão. (Jo 11)
- Com a multidão, Jesus age pelo envolvimento, através de símbolos e parábolas. (Mc 6, 30-44)
4- A missão de Jesus com os adversários: Adversários à prática pedagógica de Jesus são os que atuam contra a vontade do Pai e não os que se mostram contrários às ideias de Jesus. A vontade do Pai é o critério fundamental da missão de Jesus e vale tanto para si mesmo, os discípulos e a comunidade, quanto para as multidões e os adversários (Mc 7, 1-13).
É na integralidade de nossas vidas que queremos ser missionários/as.
CÉSAR AUGUSTO ROCHA